É pública e notória a crescente degradação das condições de ensino no Brasil. Os baixos salários dos profissionais de educação convivem com a falta de investimentos nos equipamentos educacionais. O quadro é clássico: professores mal-remunerados, mal-preparados e desmotivados, escolas depredadas, alunos indisciplinados, resultados pífios, governantes demagogos e currículos desatualizados contribuem para o estado atual do “faz-me rir” da educação brasileira – em especial, na educação fundamental e no ensino médio.
Esse conluio de forças funestas contradiz a lógica discursiva oficial das nossas “otoridades” que, como em uma ladinha sem pé nem cabeça, afirmam em cada palanque, em cada solenidade, em cada discurso, que “a educação é a base de tudo”. Daí, sobram promessas vazias de planos mirabolantes, diagnósticos e avaliações “profundas”, investimentos maçicos de recursos, que integram a retórica vazia e o blablablá que ronda os nossos palácios e casas legislativas…
Enquanto isso, os profissionais da Educação sofrem do que alcunhei recentemente de “Síndrome do Marisco”: entrincheirados nos rochedos à beira-mar, eles sofrem constantemente à ação contundente dos agentes da natureza – ou melhor, dos atores sociais. Por um lado, as famílias e a sociedade aflitas por uma educação de qualidade, que é a garantia de um futuro melhor para os seus rebentos – longe, portanto, da violência do tráfico de drogas e da delinquência juvenil. Por outro, governantes e legisladores irresponsáveis, omissos e corruptos, que “empurram com a barriga” o estado atual das coisas, uma vez que construir escolas, capacitar e pagar melhor os profissionais que lá trabalham não dá Ibope e não ganha eleição.
Triste sina de um país repleto de “Educadores-mariscos”, por sofrerem as intempéries do sol, por um lado, quanto das ondas do mar por outro, desgastando e erodindo o rochedo no qual se encontram precariamente instalados…
Também, pudera, em um país com um Presidente da República que tem um imenso orgulho de nunca ter estudado na vida, o que podemos esperar?
No mês de abril passado, saiu na Revista Nova Escola uma pesquisa sobre como anda a saúde dos professores brasileiros. Como não poderia deixar de ser – mais uma vez -, os resultados não são nem um pouco animadores. O estudo, feito pela revista em parceria com o Ibope em 2007, entrevistou 500 professores da rede pública de ensino das capitais brasileiras, e revelou que mais da metade dos pesquisados apresentam os sintomas típicos do estresse.
Os sintomas mais comuns dessa síndrome, descrita pelo neurologista Hans Seyle em 1936, são dores de cabeça, dores musculares, distúrbios de voz, dificuldades de concentração, ansiedade, transtornos do sono, esgotamento físico e mental e alterações no humor. Tal estado, a ser continuado, pode gerar outros quadros patológicos mais graves como úlceras e irritações gástricas, alterações na pressão arterial, diabetes e até mesmo transtornos psiquiátricos, tais como irritabilidade, labilidade afetiva, baixa auto-estima, síndrome do pânico e depressão. Ou seja, o estresse é a ante-sala para distúrbios orgânicos, psicológicos e sociais mais graves, caso suas causas não sejam devidamente atacadas e gerenciadas…
O estresse é, atualmente, a principal causa para o absenteísmo e as elevadas taxas de afastamento de professores por problemas de saúde na rede pública de ensino. Só no Estado de São Paulo – a maior rede do país, com aproximadamente 250 mil professores -, o número de ausências ultrapassa a marca de 30 mil por dia. Segundo dados da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, em 2006 foram aproximadamente 140 mil afastamentos por motivos médicos. A média de dias licenciados por professor é de, aproximadamente, 33 dias.
Além dos números calamitosos, o custo dessas licenças para a máquina pública beira o absurdo do desperdício do dinheiro do cidadão-contribuinte. Segundo dados do Governo do Estado de São Paulo, o custo anual dessas licenças aos cofres públicos é de R$ 235 milhões – o que daria para construir, mobiliar e equipara 330 escolas de Educação Infantil.
Não irei ficar aqui discutindo os motivos para tal quadro de degradação plena. Ao fazer isto, estarei sendo repetitivo, monótono e chato. E meus obsequiosos leitores não merecem isso desse Escriba que vos fala. É o “óbvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues. Os relatos de professores, auxiliares educacionais e alunos, e os resultados obtidos por nossos alunos nas testagens internacionais falam por si só…
O que precisa ser posto na mesa é o que fazer para reveter esse quadro tão adverso…
A mesma reportagem levanta algumas soluções para o problema do estresse dos profissionais de Educação. Longe de propor um plano mirabolante de gestão do estresse, típico das autoridades governamentais e dos burocratas estatais, as medidas propostas são razoáveis, e até certo ponto factíveis de serem implementadas nas escolas do país – caso haja boa vontade por parte de todos os envolvidos.
São elas: o suporte da direção da escola aos profissionais que lá trabalham; a formação continuada dos professores; a organização do tempo por parte dos mesmos, abrindo espaço para atividades de lazer e de descanso; o trabalho em equipe; o estabelecimento de relacionamentos cooperativos com os alunos em sala de aula; melhores condições para o exercício da prática docente; currículos atualizados e adequados à necessidade dos alunos e da sociedade; e, por fim, a valorização do trabalho do educador, como meio de resgate da auto-estima e do prestígio destes profissionais.
Simples, não? O problema é, como diria o velho Garrincha, que para dar certo, “é preciso combinar com os adversários”. E quem, meus caros, quem são esses adversários???
Publicado em Brasil, Educação, Jovens, Pesquisa de Mercado, Psicologia |
Maio 19, 2008 por:
Jose Mauro Nunes
Concordo com o texto, porém não gosto da referência que ele faz ao Presidente Lula, pelo fato de ser uma pessoa sem estudos. Não gosto porque, o problema da educação ou da falta dela, em nosso país é bem mais antigo que o Lula. O problema é justamente o contrário: Se os políticos brasileiros se preocupassem com o país, ao invés de apenas, seus pomposos salários, O Lula teria estudado e quem sabe, poderia ter sido um gênio...
ResponderExcluirconcordo plenamente com suas sábias palavras... colega Jace meu nome e nely .
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